Pipocas?

Pipocas são exatamente o título do filminho abaixo: o tempo de um instante expandido. O "olhar" para a ação das crianças tem que ser rápido como o estouro da pipoca, pois é nesse instante que ela estoura e libera o óleo do seu estouro para o professor, só nos resta estar atento e 'guardar esse óleo" na latinha. É um estouro de alegria na sala de aula. Um olhar que em tudo enxerga possibilidades, vitórias, avanços dos seus grandes e pequenos e das suas grandes e pequenas. Um olhar que capta e registra o exato momento da fala, do gesto, da PRESENÇA da criança na sala, mostrando a professora que elas estão lá para compartilhar, ensinar, aprender e que juntos querem caminhar. Esse caminhar junto é uma pipoca!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Infância na Itália!

Após três meses vivendo uma experiência única e inesquecível na Itália, em uma Escola Elementar em Rescaldina, uma pequena e bonita cidade há 25 minutos de Milão, hoje quero falar sobre as crianças dessa escola e de sua infância.
São mais ou menos 350 crianças, com idade entre 3 e 10 anos, que vivem a melhor fase da vida, a infância, num espaço enorme com balanços, escorregadores, quadra e terra, muita terra, eles se dividem e se juntam conforme o interesse na brincadeira.
Sentam no chão, cavam a terra, jogam para o alto, fazem bolo de barro, dão risada, se abraçam, deitam, correm, pulam, escorregam, balançam, jogam bola. Choram e riem ao mesmo tempo. Sentam-se com as professoras, contam sobre seus sonhos e suas tristezas, seus medos e alegrias. 
Os maiores carregam os menores no colo, no ombro, levam ao banheiro e brincam de casinha. Meninos e meninas que segundo as professoras, apesar dos 10 anos, do tamanho e das roupas são crianças, não falam em maquiagem, em namoro ou outros assuntos que não seja os da sua idade. Saem do recreio cobertos de terra, de barro, de alegria e amizade.
Uma Itália, sem novelas, Malhação e Funk, com horários e horários para a TV, preservando o que a infância tem de melhor a alegria de viver esse momento.
Hoje vi meninas de 10 anos, quase moças, sentadas no chão com crianças de 3 com baldinho de areia e meninos de 10 quase moços, escorregando e cuidando dos menores, não se fala em amor, não se fala em amizade, porque vivem esse momento,  não se força um beijo, apesar de beijarem-se um ou outro a cada balde de terra ou areia jogado na cabeça ou para o alto. Nas suas bolsas, bonecas, carrinhos, balas e figurinhas. Perguntei do batom para um bando de mocinhas cheias de terra, apenas riram e responderam:
- Eu ainda sou criança para isso!

domingo, 27 de maio de 2012

Hoje é o dia de Navigli!

Não posso falar de Navigli sem falar de Verde, são grandes amigos e soube hoje que desde os dois anos de idade. Estão longe de serem os melhores alunos da classe, mas a amizade, amor, respeito e sintonia entre eles sempre me chamou atenção e está entre as melhores da classe, se não for a melhor.
Um dia chegaram os dois com um livro de Arte debaixo do braço e me disseram que iriam me desenhar de acordo com as instruções do livro, ele havia trazido o material e ela era a dona do livro. Após o almoço abriram mão das brincadeiras e me desenharam, lindo e guardadinho.
Com o passar do tempo, comecei a observar que Verde, não é a mais linda menina da sala, nem a mais inteligente, mas é unanimidade entre os meninos, ela só brinca com eles, e é claro, desde que Navigli possa sempre participar.
Ontem participei de uma conversa entre os dois e a Professora e me deixou "apaixonada" ainda mais pela dupla.
Navigli chega com umas pedras na mão e pergunta:
- Posso levar essas pedras para a classe, pintar e fazer coleção? Veja são lindas!
Resposta "Não, não pode! Quem quer colecionar pedras, você ou a Verde?" Ele não responde, olha para trás, observa a menina compenetrada na "escavação" das pedras e retoma a pergunta e ouve a mesma resposta. Depois de três tentativas, trás a amiga para a conversa.  Após conversarem um pouco, chegam perto da professora e me olham com jeito de "ajuda a gente".
Ele refez toda a pergunta, ela apenas confirmava com a cabeça, os dois cheios de terra até a cabeça. Lindos, alegria no olho e na presença um do outro, amigos na escavação da terra e cúmplices diante da professora.
- Quem quer colecionar pedras? Após a professora fazer a mesma pergunta pela quarta vez Verde responde: " Eu quero"! A professora balançando a cabeça com o jeito de 'eu já sabia' pergunta a ele:
- O que você quer Navigli, me conta? Ele não responde nada, apenas sorri e mexe a cabeça deixando o azul do olho em contato com o Sol, não tem o que dizer para descrever tamanha beleza da combinação do azul, com a terra e o sorriso dele.
Diante da insistência da professora ele responde:
- Eu não quero nada, só quero deixá-la feliz, ela é a minha melhor amiga! Abraça a menina trazendo-a para seu lado, que o abraça feliz e confirma: Ele é o meu melhor amigo.
Eu quase morri diante de tão linda cena e disse: Navigli quando vc crescer e casar sua esposa vai ter muita sorte. Ele confirma com a cabeça e sai correndo com ela que já havia achado outro brinquedo e puxava seu braço.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Estava em dúvida entre Monza e Navigli, no sorteio saiu Monza.

Monza

Não é o famoso Circuito da Itália não, aliás o circuito é LINDO, Monza é um lugar muito bonito.

Mas esse Monza é outro é de carne e osso e tem 6 anos, é meu professor de italiano, ontem me ensinou a falar e e escrever de 0 a 100. Hoje me explicou as diferentes "folhas" daqui. Vou começar a gravar as aulas.
Hoje chegou e se manteve longe, mas eu sentia seu olhar vigiando meus passos. Estava choroso, as brincadeiras inventadas não deram certo, esqueceu o carrinho em casa e nada funcionava segundo ele.
De repente sentou ao meu lado e falou:
- Cristina ontem eu falei para o meu pai que quando eu crescer quero morar no Brasil! Rápido demais, não entendi nada, então falei.
- Cadê seu óculos? Busca ele lá na mochila, toma água e fala mais devagar não entendo assim, parece um carro de corrida. Funcionou, voltou mais calmo e repetiu de novo, só que dessa vez devagar.
- Porque? Perguntei e a resposta foi de matar.
- Estou enjoado da Itália! Com 6 anos apenas. O Brasil é mais bonito, a língua portuguesa é mais bonita, e acho que posso torcer para o São Paulo igual você e morar lá também, já que não é um Banco. Há uns dias atrás quando disse que torcia para o São Paulo, me disse assustado: - Mas São Paulo é um Banco!
Não falei nada apenas dei risada e ele insistiu:
- Me ensina falar algumas palavras úteis, meu pai falou que vou precisar delas quando chegar lá.
- Quais?
- Não sei... quando eu crescer e quiser beber uma cerveja, como eu peço?
- Então vamos fazer assim. Quando você acordar de manhã fala "Bom dia", depois do meio dia, "Boa tarde" e após as 18:00 "Boa Noite", até na hora de dormir.
- Ahh, não fala "Salve", que legal, gostei, ta vendo!
- Não, não fala! Bom quando você crescer e quiser beber cerveja... nossa seu pai sabe disso?
- Da cerveja? Claro ele que falou para beber cerveja no Brasil! Rindo e deixando a alegria tomar conta dele.
- Você fala "por favor uma "Skol"!
- Escreve aqui! Hoje descobri que tem um caderninho de bolso, sobre o Brasil, quando crescer certamente vai virar um boêmio. Inteligente demais, poético, sensível, mas extremamente autoritário, se não for do jeito dele, o caldo engrossa.
Expliquei para ele que Skol, era uma marca de cerveja, mas que "birra" se chamava cerveja. Falamos mais algumas palavras, obrigada, até logo, tchau.
E novamente uma pergunta que me obrigou a rir e muito:
- Cris, você acha que eu devo casar com uma italiana ou uma brasileira?
Nessa hora bateu o sinal do lanche e ele saiu voando, porque queria pegar as pistas de madeira, que desde ontem persegue e quem pega primeiro dita as regras do brincar. O dia dele tinha que dar certo de alguma maneira.